Cinema Noir

Este blog retrata a história do cinema noir clássico, desde seu início em 1941 até seu fim em 1958. Não são apresentados os filmes do período proto-noir, pré-noir, filmes de gangsters e de penitenciárias, bem como os neo-noir que são produzidos até os dias atuais. Para os amantes deste gênero inesquecível!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Melhor Filme Noir: O Terceiro Homem (em minha opinião)



Ficha Técnica:
Direção: Carol Reed
Produção: Carol Reed, Alexander Korda, David O. Selznick
Roteiro: Graham Greene
Música: Anton Karas
Fotografia: Robert Krasker
Edição: Oswald Hafenrichter
Distribuição: British Lion Films (UK)
Selznick International Pictures (USA)

Elenco:
Joseph Cotten... Holly Martins
Alida Valli... Anna Schmidt
Orson Welles... Harry Lime
Trevor Howard... Major Calloway
Bernard Lee... Sargento Paine
Wilfrid Hyde-White... Crabbin
Erich Ponto... Dr. Winkel
Ernst Deutsch... "Barão"  Kurtz
Siegfried Breuer... Popescu
Paul Hörbiger... Karl, carregador de Harry
Hedwig Bleibtreu... Colea de Anna

         Nas legendas iniciais o nome da grande atriz italiana Alida Valli surge apenas como Valli. Um erro que não faz juz à gandeza da atriz, do diretor e do filme. O desempenho de todos os atores é uma verdadeira aula de interpretação. Esta é uma das maiores obras primas já realizadas pelo cinema mundial.



         A direção desta obra-prima é do britânico Carol Reed, no total domínio de condução de uma película noir. Segue a mesma trilha plástica e a fotografia que já o haviam consagrado no fantástico (e também noir) Odd Man Out, filmado na Irlanda. Reed não teve uma carreira muito longa no cinema, mas o pouco que nos legou ficou eternizado como uma das melhores obras cinematográficas já realizadas.

Sinopse:
        O escritor de novelas pulp ou hard-core (novelas policiais das décadas de 1920 e 1930), Holly Martins, chega à Viena do pós-guerra, dividida em quatro setores pelos paises aliados vencedores da II Guerra Mundial. A cidade sofre o flagelo da falta de medicamentos, alimentos e todo tipo de produtos necessários para o dia-a-dia dos cidadãos. Martins chega a convite de um antigo colega de escola, Harry Lime, que lhe ofereceu emprego. Descobre então que Lime havia morrido em um acidente de trânsito, muito estranho, dentro da cidade. Ao conversar com os amigos e sócios de Lime, Martins percebe que muitos dos relatos são inconsistentes e decide descobrir, por sua própria conta, o que realmente aconteceu.

         O filme O Terceiro Homem é considerado uma das melhores películas da história do cinema, além de ser um clássico noir de rara beleza e detentor de uma fotografia como poucas vezes já se viu nas telas. Um exemplo típico da influência do expressionismo alemão na sétima arte.



       Filmado em locação, na própria Viena do pós guerra, ainda com os entulhos provocados pelos bombardeios dos aliados, as imagens são de tirar o fôlego. Reed elevou o cinema noir à sua versão mais primorosa. Sua beleza plástica é estonteante! De encher os olhos! Escrito por Graham Greene, o grande novelista britânico, produzido em 1949, o filme foi indicado para concorrer a diversos Oscar de 1950. Arrebatou a estatueta de melhor fotografia. Não sem razão! Ver links abaixo.

         O Terceiro Homem conta a estória de um psicopata americano, Harry Lime (Orson Welles) que, após a II Guerra Mundial torna-se um escroque contrabandista, incluindo medicamentos, até antibióticos, os quais dilui criminosamente em água para render mais e assim ter polpudos lucros. Uma das consequências reveladas no filme é a amputação da perna de uma criança, gangrenada após o uso de antibiótico que não tinha ação alguma, já que fora totalmente diluido, e assim levou a infecção a se alastrar. Para salvar a vida da criança os médicos tiveram de amputar sua perna.

         Uma das cenas mais chocantes e que revelam toda a crueldade do caráter psicopático de Lime é quando ele e seu amigo escritor Holly Martins se encontram clandestinamente num parque de diversões e conversam a sós. Martins questiona Lime pelos reais motivos que levaram este último a simular sua própria morte (o que Martins dolorosamente descobrira não fazia muito tempo). Num cúmulo de cinismo Lime faz uma digressão doentia sobre a liberdade e a democracia, tentando demonstrar que elas não fizeram nada de positivo para a Humanidade. Num íctus demoníaco e doentio ao extremo, Lime argumenta que uma sociedade governada pelo caos e pelo terror leva o homem à inovação muito mais do que um país governado por uma democracia pacífica. Lime pergunta o que cinco séculos de liberdade fizeram para o progresso de um país como a Suiça. E ele mesmo responde: somente o relógio Cuco. Vemos esta cena no link abaixo, o que revela toda a maldade e baixeza de um homem deturpado mentalmente e portador de uma caracteropatia monstruosa. Somente o gênio de Orson Welles para representar tão crua e cinicamente tal caracteropata.

     Um psicopata como Harry Lime não se deixa entregar quando caçado pela polícia de quatro nações vencedoras da II Guerra. Caçado como um rato pelos esgotos de Viena, ele tem a morte pela qual fez juz. Ver abaixo.

       Na cena final, apaixonado pela ex-namorada de Harry Lime, Anna Schmidt (Alida Valli), Holly Martins a aguarda na rua do cemitério onde o corpo de Lime acabara de ser sepultado. Desiste de ser levado ao aeroporto de Viena, pelo Major Calloway (Trevor Howard, em magnífica interpretação), onde tomaria o avião de volta aos Estados Unidos, na tentativa de vê-la perdoar-lhe o fato de ele, o antigo melhor amigo de Lime, ter provocado sua própria morte.



         Esta cena final de O Terceiro Homem é outra obra-prima dentro desta obra-prima cinematográfica inesquecível. A trilha sonora imortal de Anton Karas, músico vienense que viria a se tornar mundialmente conhecido devido a esta composição, tornou-se uma das trilhas mais famosas de toda a história do cinema. Tudo no filme, diretor, atores, fotografia, roteiro, trilha sonora, pertencem àquela categoria das obras eternas!





Nenhum comentário:

Postar um comentário